27 junho, 2010

Provocação

Na última aula do Superstylin' a Anne Gaul nos mostrou um case do OEstudio intitulado Fashionz' Olhos.

Esse trabalho, que também deu origem à coleção outono/inverno 2009 da marca, foi feito em parceria com o Instituto Benjamin Constant, instituição carioca especializada na prevenção, reabilitação e tratamento de cegos. O pessoal do OEstudio estudou a relação dos cegos com o vestuário e os métodos que eles usam para escolher as peças e compor um estilo.

A maior parte da coleção é feita de tecidos texturizados, há também peças inteiras sem identificação da parte da frente ou das costas, além de guizos e zípers que auxiliam na hora de se vestir. Enfim, a coleção explora o vestir-se independente da visão.

Quem quiser ver o resultado:


Mas o que realmente me chamou atenção durante a apresentação do case foi o comentário de uma das cegas que participaram do projeto, e ele era mais ou menos assim:

"Eu queria que tivessem umas bengalas diferentes, só existem essas aqui de metal, sem graça. Imagina eu andando por aí com uma bengala com estampa de flores!"

E aqui vem a parte da provocação.

O meu primeiro pensamento foi: Eu me importaria com o aspecto de algo que eu não posso ver? A moda é algo estritamente ligado à percepção individual ou é sempre construída coletivamente?

Você se importaria?

E é na frase da menina cega que eu vejo alguns dos aspectos mais agradáveis da moda, para mim. O aspecto cultural e a construção de identidade. Resumindo: o quanto a estampa de flores representa culturalmente e o quanto poderia dizer sobre um anônimo que cruzar meu caminho.

Depois da pausa, não deixem de conferir o case no site do OEstudio na guia "Collection".

20 maio, 2010

O design, a moda e a identidade pelas ruas

Na edição de ontem do Design Mais - projeto da Escola de Design da Unisinos que realiza palestras periódicas - o tema foi Design e Identidade: a moda como geradora de tendências e, para falar sobre isso, Julieta Puhl e Laureano Mon vieram diretamente da Argentina apresentar o seu Por la Calle.


A idéia desse projeto começou com uma percepção do par no ano de 2001, quando a Argentina enfrentava sua maior crise econômica. Naquele momento os argentinos procuraram por diferentes formas de sobreviver, buscavam por novas formas de expressão e começaram a gerar uma movimentação na cultura local. Havia a necessidade de dar uma “cara” para a Argentina.

“tuvo lugar el inicio de un cambio en las relaciones entre las personas y la percepción de los objetos que las rodeaban”

Então, Julieta e Laureano pensaram em fazer um mapa do design Argentino, de forma a descobrir qual era a identidade do país.

¿Qué rasgos geográficos influyen em nuestra creatividad?

O mapa de diseño argentino contou com 3 anos de pesquisa e reconhecimento de regiões argentinas e seus profissionais, reconhecimento fotográfico e DUZENTAS entrevistas em profundidade com designers. Nunca tive conhecimento de uma pesquisa qualitativa com tanta profundidade.

Ao final do mapeamento, os pesquisadores comprovaram que a Argentina tem sim sua identidade e gera tendências.

Mapa de Diseño Argentino / X La Calle from Hache on Vimeo.

Mas a pesquisa não terminou, ela agregou outras funções e continua agora sob outro nome: Por La Calle. É como uma segunda fase, para descobrir novos designers e revisitar os já conhecidos procurando por mudanças em seu trabalho. O Por La Calle também faz circuitos di diseño, que são pontos de encontro, com mostras das principais criações dos estilistas locais.

Por la Calle, circuitos de diseño from Hache on Vimeo.

Mais do que mostrar o projeto, Julieta e Laureano bateram no ponto de que a identidade é valor agregado. Segundo eles, o trabalho é 75% design próprio e 25% tendências.

Isso pode parecer simples ou óbvio para qualquer pessoa que pense em conceito de marca ou moda, mas sinceramente, quantas marcas você conhece que sabem direitinho qual é sua essência, suas principais características? Como se espera que uma marca que não se conhece possa conhecer (e até lidar) com o consumidor?

O posicionamento adequado frente a essa identidade é o que agrega valor para a marca junto ao público. Indico, para quem quiser compreender um pouco mais sobre isso, passar no blog da Juliana Laguna e também a olhar a apresentação que eu coloquei abaixo, na qual ela expõe alguns conceitos e exemplos de Vantagem Competitiva e Identidade de marca.

Por fim, a palestra de ontem foi, acima de tudo, uma provocação. E nós, temos identidade?

17 maio, 2010

Agent of Chaos

Mais ou menos um mês depois de ter entrado no Planejamento da DCS, o Giba perguntou para mim e para a outra estagiária (ambas estudantes de jornalismo na primeira experiência em agência) se nós já tínhamos uma idéia do que era Planejamento até aquele momento.

Na época (julho de 2008) o filme Batman – The Dark Knight tinha acabado de estrear nos cinemas e eu estava com uma frase do Coringa na cabeça: “I am na agent of chaos”. E eu queria ser um pouco como ele, uma agente do caos. Eu não queria ficar parada, eu queria dar minhas ideias, falar besteira de vez em quando, eu queria pensar, sugerir coisas diferentes, não só como futura planejadora, mas como pessoa.

E do pouco que eu já tinha ouvido falar sobre Planejamento naquele mês - a função de repensar conceitos e estratégias, provocar e jamais deixar de perguntar - eu construí essa visão ingênua do que era Planejamento para mim até aquele ponto: ser um agente do caos.

Tempos depois este texto foi postado no blog Estalo e aquela minha idéia não pareceu mais tão ingênua.

E desse post eu extrai alguns trechos e fiz essa apresentação tosquinha, imprimi e colei na parede, bem na minha frente, para não esquecer.


Mesmo agora, quase dois anos depois, acho que aquela minha relação ingênua foi o melhor insight que eu já tive como planejadora. E eu ainda acredito nisso, não quero deixar de ser o Coringa. Não precisamos ser tão sérios.

11 maio, 2010

Solarigraphics

Solarigrafia (solarigraphy / solargraphy) é um tipo de fotografia que capta as nuances do sol no decorrer do dia. São fotografias feitas com câmeras pinhole e longas exposições, capazes de registrar os "caminhos" do sol.

Descobri hoje que existe um projeto de PhD. chamado The Global Art Project of Pinhole Solargraphy, de um estudante de Helsinki, cujo objetivo é fazer um mapa do mundo com essas fotos.

Qualquer um pode participar, é preciso somente ter uma câmera pinhole, posicioná-la em direção ao sol e, após a exposição, cobrir a abertura com fita tape preta e enviá-la ao criador do projeto acompanhada de alguns dados (tempo de exposição, lugar, país, nome do fotógrafo e-mail de contato).

No site do projeto estão detalhados todos os materiais necessário e alguns links para quem quer se aprofundar no assunto.

Aqui no Brasil só há duas fotos partipando, ambas de São Bernardo do Campo.



Eu perdi a chance de fazer uma pinhole na faculdade, em uma aula que eu "matei" no ano passado. Pretendo me redimir agora.

E aqui vai um link com todos os passos bem explicadinhos para a confecção de uma pinhole em casa. E outro, para confecção de pinhole com caixa de fósforo.

22 abril, 2010

Winter addiction

Eu tenho um vício muito sério: meia-calça.
Boa parte do meu salário vai para comprar meias com estampas/cores novas ou meias queridas que as gatas destruíram. E eu tento me convencer de que nem é tão absurdo, afinal, se tu só uso saia e vestido, alguma coisa tem que proteger as pernas no inverno, certo? [aham, Luci]

Para quem vê todo dia o lookbook, por exemplo, é meio impossível não morrer de vontade de usar poás, lacinhos e cores nas pernas. As redes de fast fashion daqui já se ligaram e começaram a importar alguns modelos mais normaizinhos.

Na Renner dá para encontrar poás, lacinhos e corações.

Imagens do lookbook.

Na Marisa tem rendada, arrastão colorido, animal print e uma infinidade de meias lisas bem coloridas.

Imagens do lookbook.

Também existe a Lingerie.com, empresa que atua aqui, possui duas lojas em São Paulo e entrega para todo o Brasil. Lá é possível encontrar desde brasileiras como a Trifil até Pamela Mann.


Mas, para aquelas que quiserem ir além do que é oferecido aqui, tiverem paciência para esperar e dinheiro de sobra para gastar, vale a pena conferir algumas marcas estrangeiras que possuem loja online. Reuni alguns dos principais sites que entregam no Brasil, com um absurdo de opções em meia-calça.

Da ASOS.


Tabio, marca japonesa.

A My Tights, que vende as meias da House of Holland que viraram febre da London Fashion Week no ano passado e nas pernas da Lily Allen.

E o Etsy que, entre outras coisas, vende as tattoo socks da empresa de Tel Aviv que ficaram super famosas por causa do Twitter.

11 abril, 2010

Desfile da grife infantil Tyrol

A Tyrol deveria fazer roupas para adultos. Sério, não teve como não pensar nisso durante o desfile da grife infantil. Eu queria tudo.

Ou as crianças é que conseguiram dar um clima meio mágico às roupas. A impressão que ficou é de que elas tinham pulado de um livro do Harry Potter, mas um bem antigo, de páginas amareladas pelo tempo, capa de couro e letras douradas.

E essa menção ao livro não é aleatória, os livros também estavam na passarela.
Quem é que não queria ter um filho assim?

A grife apresentou muito do que nós já tínhamos visto nos desfiles adultos: urbanismo/metrópole (em combinações monocromáticas onde o preto e o cinza imperam), heritage/resgate do passado (traduzido nos topes, babados, rosa antigo, marrom, azul marinho, bordô, tartan, estampas florais), Inglaterra (xadrez, gravata borboleta, chapéus) e o glam rock, que me pareceu o carro-chefe da marca, onde apareciam os itens citados acima de uma maneira mais despojada, sempre acompanhados de meia-calça colorida no look das meninas.

Mas o ponto alto do desfile, sem dúvidas, ficou por conta do ator Cássio Reis e do cadeirante conduzido por ele na passarela. Teve choro? Teve! A platéia (boa parte dela também eram crianças) ficou muito emocionada e até esqueceu o desconforto da música falhada minutos antes. É bem provável que a idéia tenha surgido por causa da novela Viver a Vida, mas bem que podia ser repetido no futuro.

E para terminar ainda teve She and Him com Why do you let me stay here? conduzindo a passarela. Mágico.

Abaixo estão algumas imagens do catálogo de inverno da marca, que está super bem produzido e pode ser acessado na íntegra aqui.






Desfile C&A

O desfile da C&A foi supreendente.

Ele conseguiu mostrar as diferentes linhas da coleção de inverno e ainda centralizar as variações de estilo sob um mesmo guarda-chuva. E tudo muito bem representado pela música. Ficou fácil e gostoso de ver e também entender o que a marca estava propondo.

No telão e no figurino, uma mistura de C&A com Alice em um desfile de cartas e naipes de baralho.

Quem já viu a campanha de inverno da C&A sabe que a música tema escolhida é Tainted Love, originalmente gravada por Gloria Jones em 1964 e mundialmente conhecida na versão clássica anos 80 do Soft Cell. E essa música foi o ponto alto do desfile, dividido em 5 partes a partir de 5 versões diferentes da música.

A primeira linha a entrar na passarela trazia blazers, bermudas, meias 4/8 e muito xadrez. Os óculos deixaram claro que a inspiração vinha dos nerds.

A segunda linha, bem urbana, trazia muito forte os tons de cinza, as meias rasgadas e as sobreposições. Chamo atenção para os lenços sobrepostos no pescoço, quase um exagero, mas marcando bem a intenção de se mesclar com o espaço urbano.

A terceira, cuja trilha foi a versão de Tainted Love de Marilyn Manson, mostrava as peças rockers (quase góticas, na minha opinião). A maquiagem pesada, a palidez dos modelos, o preto, as tachas, o couro, wet legging. Clara referência vampiresca.

Para mostrar as lingeries, coleção recém colocada nas vitrines, assinada pela Pussicat Doll Nicole, Tainted Love ganhou uma versão cabaret. Os vermelhos, as cintas-liga, os ombros marcados e os corsets vieram acompanhados do batom borrado na boca das modelos.

Para finalizar: o jeans. Dessa vez o jeans lavado e as calças skinny apareceram na versão dance da música. Também tinha muito colete e correntes.

O ClickRBS fez um vídeo com os melhores momentos do desfile, é só clicar aqui.

Acho que a C&A, com a coleção de inverno, fez jus ao título de grande rede de fast fashion. A marca soube trazer as principais tendências das semanas de moda para o varejo popular. Sem contar que conseguiu criar uma coleção bastante interessante, sejam as tendências que a inspiraram novas ou antigas. O desfile foi mais interessante ainda, o Donna Fashion ganhou um ponto comigo depois dele. Já falei que achei a idéia da música muito boa?

As últimas fotos são de Tadeu Vilani para o ClickRBS.