20 outubro, 2008

Caixa, a teoria

Sabe qual é, para mim, o maior problema do jornalismo?
A falta de criatividade. É estar sempre dentro da caixa.

Há duas semanas eu fui em um curso que a planejadora Guega Rocha, da JWT, deu no Click!Planning. Nesse curso [que por sinal, foi fenomenal] ela dizia que o grande desafio do planejador era pensar e inovar dentro da caixa. Logo, um bom planejador é inovador mesmo estando delimitado pelos briefings, clientes, agências e mídias da vida. Primeiro impulso foi discordar, mas ela deu uma série de bons argumentos que se tornou impossível fazê-lo.

E daí? Estão ansiosos pela minha rendição? Querem que eu admita que publicidade e jornalismo étudoamesmamerda?

Não será hoje, sinto muito.

Eis que, depois de quase seis meses trabalhando só com publicidade, tendo como únicas atividades “jornalísticas” um blog afetado e uma entrevista literária com uma puta, eu, infelizmente, TIVE QUE entrar em contato com o jornalisticamente booooooooring jornalismo de novo.

E digo que a tal da caixa, que, de fato, existe em qualquer profissão, desse lado é bem mais apertada. E não é só uma caixa, são duas: a primeira é fechada pela empresa, já a segunda é fechada pelos vícios do próprio jornalismo, dos seus leads, dos stand-ups, sonoras e imagens.

Veja bem, na publicidade você precisa estar dentro da caixa, mas antes de fechar ou esgotar toda e qualquer “pessoalidade”, você já imprimiu uma série de opiniões e pensamentos. Você pegou a informação, pensou, observou, concluiu e então você fez um documento com tudo isso, utilizando informação, opinião e bom senso. Colocou na caixa. Se acaso algo não coube, você considerou, reconsiderou, tirou da caixa. Mas o importante é que foi registrado. E eu sempre fecho a caixa com um lacinho bem pessoal.




Já no jornalismo, você já começa retirando toda e qualquer pessoalidade, você já começou pensando como alguém que não pensa, pois, enfim, jornalista é imparcial, certo? Daí você foi lá e pegou a informação, pensou um pouco, mas bem pouco, porque logo veio o LEAD que te obrigou a construir uma historinha. Conclusão? Não mesmo, quem deve concluir é o leitor, que vai gastar 10 segundos lendo as 2 primeiras linhas, vai achar tão chato quanto a morte e vai absorver umas 3 palavras. Daí você vai lá e coloca dentro da caixa, mas a caixa é tão apertada que você ainda vai ter que modificar umas duas ou três frases para não ficar “tendencioso” [e eram justo aquelas 3 frases que imprimiam um pouco do seu “eu”].




Mas, acima de tudo, o jornalismo, para mim, é sem sal. Não oferece desafios, não me obriga a pensar, não me estimula a refletir. E, mesmo quando eu faço tudo isso por conta própria, a caixa me prende e sufoca, me obriga a ser medíocre.

E antes que alguém reclame, meu blog também é meu diário.
Me convida a desabafar. Sem caixas.



O gatinho nada tem a ver com o que eu escrevi. É só porque eu gosto de gatinhos.

4 comentários:

  1. "Mas, acima de tudo, o jornalismo, para mim, é sem sal. Não oferece desafios, não me obriga a pensar, não me estimula a refletir. E, mesmo quando eu faço tudo isso por conta própria, a caixa me prende e sufoca, me obriga a ser medíocre."

    Depende muito do jornalismo que tu pratica. Concordo e acho brilhante essa tua teoria, se aplicada nas grandes empresas de ambas as habilitações. Agora, se tu pega o lado mais alternativo ou pessoal de ambos, é diferente.

    Lembro de um post do Menezes falando sobre o setor de atendimento das agências de publicidade, fazendo uma analogia com as músicas dos Beatles, que eu achei genial, e prova que também há uma caixa sem sal e sem gosto no ramo publicitário.

    No mais, tu resumiu uma parte dos meus motivos para desistir do jornalismo de grande empresa. Vou procurar outra coisa pra fazer.

    Procurarei o post do Menezes e coloco aqui.

    Beijo.

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  2. http://www.insanus.org/menezes/archives/2007_04.html

    Vai em atendi-mentes e seja feliz.

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  3. eu já tinha lido esse post.
    e sim, é tudo verdade, tem gente idiota em agência, só daqui dá pra listar vários.
    eu tenho muita sorte de trabalhar em um planejamento que é repleto de boas idéias e que não é uma caixa fechada. e eu tive muito azar de trabalhar com pessoas bem medíocres qdo fazia jornalismo [com excessões, claro].

    de qualquer forma, tendo "vivido" dos dois lados, ainda acho que o jornalismo é mais acomodado e acho que é, principalmente, por causa dos vícios.

    acho que somos diferentes, assim como tem tantas outras pessoas na fabico que tb não suportam.

    mas preciso admitir que essa minha fase "publicidade é mais criativa e blábláblá" seja pq eu to muito irritada com o jornalismo, não sei.

    mas qdo tu passa todas as manhãs na agência discutindo e comentando um assunto, tentando investigar as causas e os efeitos e tu percebe que em qualquer redação os jornalistas não fazem metade disso... aí é foda!

    e há quem diga que o deadline atrapalha... aqui tb tem deadline, isso não é desculpa.

    e eu quase escrevi um novo post.


    ah, atendi-mentes é um dos melhores textos do menezes.

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