15 abril, 2011

E quem jogou o meteoro?

Na última terça tivemos a primeira edição de 2011 do Insight do GP.
E para abrir os trabalhos, ninguém menos que Charles Bezerra, falando sobre aquilo que tudo mundo quer, mas ninguém tem coragem de se arriscar para conseguir: inovação.

Me arrisquei (ó) a escrever um texto sobre a palestra e minhas impressões sobre ela.

E quem jogou o meteoro?

Todas as noites, há mais de três anos, Charles Bezerra faz um exercício com seu filho: ele pode perguntar qualquer coisa que o pai vai responder. Essa criança de seis anos já sabe, por exemplo, como um meteoro viaja pelo espaço, mas isso não o impediu de perguntar “Quem foi que jogou o meteoro?”.

Imagem daqui.

Zerar tudo e recomeçar. É a isso que Charles se propõe todas as noites. Mais do que um exercício de aprendizado para o filho, é uma atividade que o designer e professor coloca a si mesmo. Todas as noites ele vê uma folha em branco esperando o desafio de ser preenchida.

E você, se sente confortável com uma folha em branco? É uma pergunta que dá calafrios.

Para uma criança, provavelmente, não. Aliás, para uma criança, uma folha de papel em branco é a mais bela forma de desafiar a imaginação e criar algo novo. Em que ponto uma folha em branco passa a ser algo ruim ao invés de ser algo maravilhoso? Somos ultra-especializados, mas não conseguimos resolver um problema simples para uma criança de 5 anos?

Para Charles Bezerra nossos processos estão todos errados, e é por isso que entramos em pânico quando vemos uma folha ou uma tela em branco. Procuramos encaixotar nossas atividades para otimizar nosso tempo e, com isso, desaprendemos a inovar.

E para inovar não precisamos aprender nada novo, segundo ele, só precisamos nos livrar das amarras nas quais nos metemos e das receitas com as quais aprendemos a fazer nosso trabalho. É fazer as perguntas mais simples mesmo entendendo conceitos muito complexos.

Nossa maneira de pensar é industrializada, fragmentada, encaixotada em nossas disciplinas. Nunca sobra tempo de pensar algo novo, estamos sempre preocupados com os tais dos processos. Para haver inovação precisamos estar confortáveis com o “não saber” e dispostos a pensar algo pela primeira vez, sem receitas. Para as empresas a dica é contratar pessoas que pensem de forma diferente. Mas, mais do que isso, dar espaço e dar sentido a essa vontade, criar um ambiente que seja capaz de potencializá-la. Antes de criar as inovações é preciso criar os inovadores.

“Quem sobrevive é aquele mais adaptado às mudanças”, disse ele citando a Teoria Evolutiva de Darwin. E se nosso contexto hoje é o de competição, quanto mais nossas idéias, produtos e serviços forem adaptáveis, mais fácil deles serem vistos como alternativas. Parece simples, mas lembre-se: os que dominaram as mudanças foram aqueles capazes de arriscar.

E sabe quem gosta de se arriscar em algo novo? As crianças.

Planejar não é dar respostas, é jamais deixar de perguntar. Alguém falou isso antes, durante ou depois da palestra. E agora, pensando no filho do Charles, não pude deixar de fazer um paralelo com a nossa atividade. Por mais que sejamos especializados e conheçamos a trajetória de cada meteoro, nós somos aqueles que devem fazer as perguntas mais estúpidas, aquelas que mais ninguém tem coragem de fazer, pois só assim a gente consegue descobrir quem jogou, quando, como e por que existem os meteoros.

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