Danny Boyle nunca me decepciona.
É garantia de bom filme.
Por que?
Ele tem um estilo bem marcante em seus filmes. Ele consegue transpor do roteiro [em sua maioria de autoria ou adaptação de John Hodge] para as telas situações absurdas de universos reais e/ou situação normais de universos absurdos. Ele também abusa da violência, mas não no estilo Tarantino de ser [me like too], a violência, nos filmes de Boyle, é a única coisa fundamentalmente real.
Outro ponto marcante é a parceria com o ator super confortável Ewan McGregor. Parcerias ator/diretor me emocionam horrores, isso porque, geralmente, elas dão muito certo. Alguns exemplos, só para constar: Tim Burton e Johnny Depp, Fellini e Mastroianni, Marisa Paredes e Almodóvar. Quando ator e diretor possuem uma química capaz de realizar diferentes personagens de forma eficiente, é outra garantia de bom filme.
A carreira do diretor no cinema começou em 1995 com Shallow Grave (Cova Rasa). Esse também foi o primeiro filme da parceria Ewan/Danny. Infelizmente, ainda não assisti. Não posso opinar.
Eu conheci o Danny Boyle no seu segundo filme: Trainspotting, de 1996. Esse encaixa-se na primeira categoria [situação absurdas em universos reais].
Para quem não sabe [e se tu não sabe vai procurar um torrent], esse filme é baseado na obra de mesmo nome de Irvine Welsh e conta a historinha de Renton, jovem de Edimburgo viciado em drogas, e seus amiguinhos também viciados e doidos. Até hoje Trainspotting é um dos meus filmes preferidos, principalmente pela estética suja e a violência real que retrata.
Também nessa categoria estão A life less Ordinary (1997), The Beach (2000) e Slumdog Millionaire (2008), sobre esse último eu vou falar depois. Tanto em Trainspotting, quanto em A life less Ordinary e The Beach, os universos são todos possíveis, existentes, reais. As situações, acontecimentos, fatos, por sua vez, têm altas doses de abstração.
Um mergulho no vaso sanitário para buscar um supositório, um seqüestro reverso, uma ilha comunista.
Em todas essas situações a violência estava presente. E por que ela é fundamentalmente real e talvez a coisa mais real dos filmes do Boyle? Porque é a única coisa que te faz pensar “SIM, ISSO ACONTECE, AQUI DO MEU LADO”. Sem apologias anti-violência, claro, não estou aqui para isso. É a violência visceral, intrínseca, humana que faz os filmes do Boyle tão especiais.
Em 28 Days Later (2002) temos situações normais em universos absurdos. O cenário é futurista, uma epidemia ocorreu, pessoas infectadas transformaram-se em uma espécie de zumbi-que-corre. Onde está a situação normal disso tudo? A violência humana. A irracionalidade dos racionais, para mim, é um dos pontos fortes do filme. Para não dar spoilers, prestem atenção quando o grupo chega ao forte militar.
Eu não assisti aos demais filmes do Danny Boyle, então, não sei se essas minhas impressões confirmam-se realmente. Mas não foi por isso que eu escrevi esse texto.
Ontem assisti a Slumdog Millionaire (2008). A princípio a estética do filme parece bem diferente de qualquer coisa realizada pelo diretor [veja só, ele até ganhou um Oscar] e confesso que estava um pouco ansiosa para ver qualé que era a desse filme da modinha Índia. E não me decepcionei. Boyle do início ao fim.
O universo é real. Os personagens são reais. As situações são possíveis. O que existe de absurdo aqui então? A junção de todos eles. A violência, mais uma vez, dá o tom e permanece durante as duas horas de filme pontuando de realidade quando o espectador já está prestes a criticar. Slumdog é lindo e, no final, é real.
CUIDADO, SPOILER.
E, em parte, concordo com esse artigo do A Grande Abóbora. Não porque eu ache que a história do Patinho Feio faça com que o filme perca seu valor, mas porque “A história de um garoto que queria ser alguém na vida e, desde a perda da mãe, batalhou para isto. Sempre cuidou dos seus próximos, assumindo muitas responsabilidades. Encerrou sua trajetória suicidando-se para que seu irmão pudesse viver despreocupadamente, sem problemas com os bandidos”.
Esse é o forte de Slumdog. Esse é o personagem central. Essa é a encarnação real da violência.
Aqui que o Boyle deixa de se esconder.
Legal mesmo é a dancinha no final do filme.
ResponderExcluirÉ realmente uma pena que o personagem mais interessante do filme tenha ficado como coadjuvante.
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