15 outubro, 2008

Luxo no açougue


Baby Doll by Yves Saint Laurent

Pacotes de viagem ao espaço, Daslu, Tablet PC, perfumes Yves Saint Laurent, bolsas Louis Vuitton, banheiras de ouro, hotéis megalomaníacos de Dubai, entre outros, sempre estiveram bem distantes da minha realidade.
Até agora.
Não que eles façam parte da minha vida, materialmente falando, mas leio um pouquinho sobre eles todos os dias.

No início achava que, com toda essa história de boom da classe C, aumento do crédito e maior poder aquisitivo para todas as classes, esses produtos e marcas estavam sim mais acessíveis e, digamos, mais na mídia.

Mas daí veio a suposta crise [a dos States] e, embora nós, meros mortais, não nos preocupemos com ela, é impossível não deixar de notar que, todo santo dia, umas 10 matérias dos principais jornais do país estão relacionadas a ela.

E daí eu pensei, esse negócio de produtos premium e/ou luxuosos vai parar de aparecer tanto.
Um engano.

E então eu passei a acreditar que só estava em contato com tudo isso porque, enfim, eu preciso estar em contato com isso no trabalho. A Wish online faz parte dos meus feeds, por exemplo.

Mas ontem eu realmente cheguei à conclusão que não, não mesmo.

O luxo está virando carne de vaca.
Sim, pois existe até privada coberta com cristais Swarovsky. WTH? Brega, muito brega, mas considerada luxuosa. Enfim. Também acho as famosas bolsas Louis Vuitton brega bagarai, mas é luxuoso, é chique, é exclusivo, né?

Mas a razão de estar escrevendo esse texto veio de dois lançamentos que ocorreram nessa semana, de duas marcas bem conhecidas e conceituadas.

Primeiro aconteceu a inauguração da loja-conceito das Casas Bahia.
Reparem, Casas Bahia é e sempre foi classe C. Tempos atrás eu li que eles estavam investindo ainda mais nesse nicho mas agora acho que eles estão querendo mesmo atirar para todos os lados. E por que não? Isso não é uma crítica.

A proposta da loja é ser um espaço de lançamento de novos produtos e tecnologia.
Tem um espaço chamado life styles, com 3 apartamentos decorados por arquitetos. E TEM MAIS: um catálogo digital com opções de cores e modelos, para o cliente ficar brincando e fazendo suas combinações. Na área de informática, gadgets e consoles for free and for all, para experimentar!

A loja fica em Curitiba, em um shopping, mas até o final do ano abrirão mais duas, uma no Rio e outra em São Paulo.


Por outro lado veio a Revista Veja.
Essa nunca foi classe C no posicionamento, porém é referência nacional, a revista semanal mais lida e blá, blá, blá.

A partir do dia 19 de novembro irá circular, juntamente com a Veja São Paulo [que é o maior mercado de luxo brasileiro], a Veja São Paulo – Especial Luxo, com reportagens, curiosidades e guias de compras e serviços referentes ao consumo de alto-padrão.


E então? Luxo está virando mesmo carne de vaca?



Eu acho que sim. Não é só porque eu trabalho com tendências ou porque eu leio um pouco de tudo todo o dia. O luxo [ou a exclusividade, se preferir] está ficando cada vez menos exclusivo.

E isso não acontece pela mudança de preços. Quando um produto se populariza, ele é comprado em 40 vezes no cartão até que ele vai ficando, gradualmente, mais barato. Avanços tecnológicos e o escambau também contribuem. Mas isso, até então, não acontecia com o que era considerado luxo.


Se é tendência, deixa de ser tendência quando se estabelece. E daí vira moda.

E moda, mesmo quando não é acessível, é copiada, transformada, como aconteceu com as Casas Bahia e a sua loja-conceito.

Se o luxo prima pela individualização, me desculpem, mas quando a maior revista do país resolve lançar uma edição especial-luxo para o maior mercado do Brasil, deixa de ser exclusivo.



Luxo, em breve no açougue mais perto de você.

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